Vício em apostas eleva afastamentos por ludopatia no INSS em 2.300%

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O avanço do vício em apostas no Brasil já se reflete não apenas na saúde mental da população, mas também nas contas da Previdência Social. Entre junho de 2023 e abril de 2025, o número de auxílios por incapacidade temporária concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a trabalhadores diagnosticados com ludopatia saltou mais de 2.300%, segundo dados oficiais.

A maioria dos beneficiários afastados é formada por homens de 18 a 39 anos, justamente a faixa etária que compõe parte expressiva da força de trabalho ativa no país. Cerca de 7% dos segurados afastados por esse transtorno têm filhos, o que amplia o impacto social e econômico do problema.

A ludopatia é um transtorno mental caracterizado pelo vício patológico em jogos de aposta. A pessoa perde o controle sobre o ato de jogar, mesmo diante de graves prejuízos financeiros, familiares, sociais e profissionais. Com a popularização das casas de apostas online e aplicativos de jogos, os casos vêm crescendo rapidamente.

Além do aumento expressivo na concessão de benefícios, a doença também tem dado origem a uma série de disputas judiciais. Em um caso recente, um ex-gerente bancário conseguiu na Justiça a prorrogação do auxílio-doença após o término do prazo concedido pelo INSS. Já um servidor público que desviou R$ 1,5 milhão para apostas obteve afastamento por incapacidade e atualmente move uma ação contra o Estado para manter o benefício.

Apesar do cenário alarmante, o INSS ainda não possui diretrizes específicas para a avaliação pericial da ludopatia, nem programas estruturados de reabilitação profissional voltados para esse público. A lacuna tem gerado insegurança para segurados e sobrecarga para o sistema previdenciário.

Para especialistas, a situação exige uma resposta articulada entre diferentes áreas. “É fundamental integrar saúde, assistência social, trabalho e previdência para enfrentar esse novo perfil de incapacidade. Sem isso, continuaremos lidando apenas com as consequências, sem atacar as causas”, defende a psiquiatra Marina Farias, que atua na rede pública de saúde mental.

Com o crescimento contínuo do mercado de apostas e a falta de políticas públicas específicas para prevenção e tratamento, a tendência é que os impactos sobre trabalhadores, famílias e o orçamento da previdência se intensifiquem nos próximos anos.

Layla Vieira
Author: Layla Vieira

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