Documentos apresentados por Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), à Comissão de Segurança Pública do Senado Federal, indicam que uma petição assinada teve a data adulterada para justificar uma operação da Polícia Federal.
Segundo o perito que atuou no TSE, ele foi orientado a produzir um documento técnico posteriormente à realização da ação policial, mas com data retroativa para simular que o material havia sido elaborado previamente.
De acordo com Tagliaferro, a adulteração visava evitar que a operação da PF parecesse ter sido motivada apenas por uma matéria jornalística. Metadados apresentados indicam que o documento foi criado em 28 de agosto de 2022, às 10h33, mas incluído no processo com a data de 22 de agosto.
O relatório em questão tratava da reportagem publicada pela coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles, que mostrava empresários defendendo um golpe de Estado em mensagens de WhatsApp. A operação da PF contra esses empresários foi realizada ainda naquele mês. O documento assinado por Tagliaferro contém 37 páginas e, segundo ele, foi feito após a reportagem e após a ação da PF, mas teve a data forjada para aparentar ser anterior.
Trata-se, diz ele, de “manipulação e criação de uma investigação que nunca existiu”, feita com o objetivo de justificar judicialmente a operação baseada apenas em notícia de jornal.
Além disso, o ex-assessor relatou que foi orientado a elaborar mapas mentais para complementar a justificativa da operação, a pedido do juiz instrutor Ayrton Vieira. Os metadados mostram que esses mapas foram produzidos em 29 de agosto de 2022, nove dias após o relatório. Tagliaferro alega que Moraes determinou que o material fosse feito para “construir uma história”.
Em outro ponto do depoimento, Tagliaferro disse que Moraes combinava diretamente com o procurador-geral da República, Paulo Gonet, quais seriam as denúncias da PGR apresentadas aos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) durante as eleições de 2022. Segundo o ex-assessor, o processo “corria ao contrário”, ou seja, com decisões judiciais sendo tomadas antes da investigação. Alexandre de Moraes negou todas as denúncias.